domingo, 7 de março de 2010

Johnny Quem?



Quinta passada, morreu Johnny Alf. Sim, Johnny Alf. Mas sei que, neste instante, muitos “alguéns” dirão: quem é Johnny Alf? A mesma coisa que devem ter perguntado quando Marisa Gata Mansa, Nora Ney, Sérgio Sampaio, Miriam Batucada, Waldyr Calmon e tantos outros partiram para outro estágio de vida.
Claro que, talvez, para o estimado leitor, o nome do Alfredo José da Silva não seja nenhum segredo. Aliás, chamar o Johnny pelo seu nome de batismo sim soaria estranho. Mas o público em geral ignora não só o Johnny Alf, mas uma batelada de artistas que tiveram fundamental importância na MPB.
Os que citei acima são apenas alguns. Admito que ainda não conhecia a Marisa quando do seu passamento, mas procurei pesquisar e conhecer mais sobre esta grande cantora, praticamente esquecida após os anos 70. O Sérgio Sampaio e a Miriam Batucada foram simplesmente companheiros de Raul Seixas e Ed Star (outro esquecido injustamente, mas ainda vivo, graças a Deus) numa das mais célebres obras pastiches da história da MPB, o “Sociedade da Gran-Ordem Kavernista Apresenta: Sessão das Dez”. Nora Ney, embora uma cantora ligada ao pessoal do clube Sinatra-Farney (que incluía o Johnny Alf), foi a primeira pessoa no Brasil a gravar um rock’n roll, na versão de “Rock Around The Clock”, gravada pela Continental em 1954. Por fim, Waldyr Calmon gravou para a extinta Long Play Radio e para a Copacabana (hoje engolida pela EMI) uma série de álbuns de sucesso entre 1950 e 1970, como os famosos “Feito Para Dançar”.
Quando penso nestes artistas que já faleceram e deixaram saudade, me recordo de outros tantos, vivos, e que foram esquecidos ao longo do tempo. Incompetência? Não. Dizer isso de artistas do naipe de Ednardo, Rodger Rogério, Artur Verocai, Ruy Maurity, Amelinha, Claudette Soares, Maria Creuza, Marília Medalha, Maria Martha, Hyldon, enfim, tanta gente boa que, hoje, não está mais incluída em nenhum espetáculo, em nenhum canto... ou que, em felizes (?) casos, ainda mantém seus showzinhos particulares, nas suas cidades e para um público restrito. Assim, priva-se o grande público de conhecer profissionais fantásticos, que colaboraram de maneira intensa na história da MPB. E que, certamente, só voltarão a ser lembrados nas suas mortes quando for publicado seu obituário – que será, fatalmente, repleto de comentários ininteligíveis perguntando sobre o “famoso quem”.
Claro que, em alguns casos, estes artistas vivem reclusos porque querem. Eu daria dois exemplos claros: o do Belchior e o da Dianna Pequeno. O primeiro, como é de conhecimento geral, ficou desaparecido até uma reportagem comentar sobre este fato. Ele acabou aparecendo e esclarecendo os porquês do seu sumiço. Já a Dianna Pequeno simplesmente quis dar um tempo e investir em projetos pessoais, sem contar o fato de que ela não gosta de misturar sua vida pessoal com a vida profissional. Belchior e Dianna Pequeno foram compositores e cantores de duas músicas de suma importância para a década de 1970: “Apenas Um Rapaz Latino-Americano” e a versão em português de “Blowin’ In The Wind”. Ambas as músicas traduziram, como nenhuma outra, a excelência e o poder angustiante que penetrava a alma do jovem brasileiro naqueles anos perturbadores e incertos.
Eu poderia citar uma lista imensa de gente que, hoje, vive escondida por conta do desinteresse dos meios de comunicação. Ou, quem sabe, por conta de sua timidez. Johnny Alf viveu seus últimos anos fechado numa pensão, sobrevivendo de esparsos shows e vendendo sua coleção de discos de 78 RPM para sobreviver. Lutava contra um câncer de próstata já haviam dez anos. Conseguiu chegar até os 80 anos, mas sem o devido reconhecimento que merecia. Pois é... o homem que deslumbrou Tom Jobim, o único postulante ao posto de “inventor da Bossa Nova”. Pois é... o Antônio Brasileiro disse, com todas as letras: “Johnny Alf é o inventor da Bossa Nova”. Mas o brasileiro prefere esquecer. Prefere o rebolation.
Vai, vai, Johnny! Eu sei, você cansou de rock, sua amiga Nora vai te dizer quando chegar aí. Dá um abraço no mestre Vina, tá? E senta na mesa com o Dick e o Frank, degusta de um bom whisky e assiste o show da Marisa. Quem sabe ela não canta "Eu e a Brisa"? Ah, e se os ver, não esqueça do Sérgio, da Miriam, do Waldyr...

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