sábado, 13 de março de 2010

A Odisséia Reflexiva sobre... Charlie Brown!



Sempre adorei desenhos animados. Na minha infância, passava horas me deliciando na frente da TV, assistindo várias produções em forma de cartoon. Claro que, passados 20 anos da aurora de minha vida, vejo algumas coisas que eu assistia com certas restrições, mas algumas ainda me tocam e me emocionam profundamente. Dentre estas produções, uma que sempre me encantou foi o desenho “Charlie Brown”, produção de Bill Melendez e Phil Roman baseada nos cartoons do Charles Schulz.
A magia que me tomava nestes desenhos não era o fato de eles serem sofisticados, empolgantes, aventureiros ou insanos. Muito pelo contrário: se formos analisar de uma maneira bem fria, os desenhos do “Charlie Brown” são monótonos, tem uma animação bastante simples e um tanto subjetivos. A questão é: como um desenho assim, com tantas características rejeitadas pelos estúdios de animação, conseguiu firmar-se na história e tornar-se uma das produções mais famosas e populares de todo o mundo?
A resposta é uma só: inteligência! A preocupação do Charles Schulz (transpassada pelo Bill Melendez para os desenhos) era de transmitir uma espécie de “comparativo” entre as angústias do homem adulto numa metáfora com as crianças. Logo, os personagens de “Peanuts” (como a série é conhecida nos Estados Unidos) são representações humanísticas sob a forma infantilizada. Cada qual com seus defeitos, características, situações.
Sem dúvida nenhuma, o personagem-título é o mais inquietante de todos. Charlie Brown é um garoto de, no máximo, dez anos de idade. Embora inteligente, sua personalidade é um tanto sonhadora demais, pouco presa ao cotidiano. Isto o leva a tomar decisões inseguras e, muitas vezes, atrapalhadas e precipitadas. Pode parecer uma incongruência dizer que uma pessoa é insegura e precipitada. Mas em Minduin isto se reflete de uma maneira quase lógica: sua insegurança é tamanha que ele sente a necessidade voraz de ser importante, de ser reconhecido pelas outras pessoas. Então, ele não mede esforços – daí a precipitação – para conseguir aquilo que deseja. Obviamente, como não consegue os seus intentos, acaba se fechando num casulo introspectivo, desanimado e até depressivo. Considera-se um garoto com uma crise existencial gigantesca, sem coragem para enfrentar os outros e conquistar o grande amor de sua vida, representado pela “garotinha ruiva” – que, numa das poucas vezes que foi mostrada, era o nêmesis do Charlie Brown, uma menina desenvolta, bonita e invejada pelos colegas.
O mais interessante é que, enquanto Charlie Brown representa o “opaco”, o autor o nomeia, enquanto que a “garotinha ruiva”, brilhante em sua existência, é reconhecida apenas pelo apelido dado por seu pretendente. O apelido é tão forte que permeia a idéia da existência da personagem, fazendo com que ela seja, na realidade, uma representação da musa “charliebrowniana”. Sendo mais objetivo, podemos dizer que Charlie Brown é uma representação do Charles Schulz (grande novidade). Ou melhor, sendo Charles Schulz um artista, podemos dizer que Charlie Brown é o simulacro de um artista.
Engraçado que esta percepção não partiu somente das minhas leituras sobre os desenhos do Charlie Brown, mas de uma música lançada em 1974 por um artista considerado “brega”, mas por quem nutro um grande respeito e consideração: Benito di Paula. Por muitos anos, tentei entender qual era o propósito da sua canção “Meu Amigo Charlie Brown” e confesso que procurei razões e razões para entender porque ele quer mostrar “a este amigo” elementos culturais vigentes do nosso país. Podíamos entender como um “convite ao estrangeiro para conhecer o nosso país”, mas esta visão simplista nunca me satisfez. Foi preciso mergulhar na alma do Charlie Brown e compreender que nossa cultura é um caldeirão de inspiração artística – a menininha ruiva? – e que pode muito bem se juntar com o processo de criação artística.
Uma outra idéia levantada pela canção e que poderia muito bem ser associada ao cartoon seria a de que “a alegria do povo brasileiro é tão contagiante que pode motivar até mesmo o Charlie Brown”. Não deixa de ser interessante esta visão, mas ela não deixa de concordar – mesmo na sua simplicidade – com a mesma visão do artista sonhador, atrapalhado e que não consegue se inteirar plenamente de sua realidade, criando uma fuga existencial.
Aliás, a letra de Caetano Veloso para a canção “Livro”, do álbum homônimo de 1997, coincide com esta visão existencial do artista. Afinal, a ausência de livros não impede que “ela tropece nos astros desastrada”, fazendo uma analogia belíssima entre o mundo sonhador e o “Chão de Estrelas” (do Orestes Barbosa) – que, por acaso ou não, também faz uma referência a vida do artista, que vivia “vestido de dourado” e é “palhaço das divinas ilusões”.
O Charlie Brown, no seu desejo íntimo de conquistar a “garotinha ruiva”, acaba não tentando encontrar-se. Mas qual o artista que se encontra? Numa das comunidades do Orkut, perguntaram qual seria a profissão do Charlie Brown quando adulto. Diante de tudo que ele passa e sofre, só vejo duas alternativas: a primeira, já explicitada no texto, de um artista; a segunda, de um cargo qualquer de chefia, onde ele iria descontar todas as suas frustrações em cima das outras pessoas, tentando vingar-se do seu passado introspectivo e desastrado.

Apesar de tudo, hoje digo: sou, com orgulho, um Charlie Brown. Talvez um pouco tirano, sim, mas querendo sempre ser muito mais artista. Porém, procuro analisar e ver que as coisas que aconteceram em minha infância me fortaleceram, me edificaram, me fizeram crescer e engrandecer diante dos desafios. Não fiquei com a percepção evasiva da “garotinha ruiva”, até porque não preciso de alguém que seja o oposto de mim para me completar, mas de procurar a minha “Charlotte Brown”, aquela que irá somar – sempre – comigo. Na verdade, digo hoje que somos o encontro entre o Charlie Brown e a Lisa Simpson. Sim, “The Simpsons”, outro desenho. Igualmente apaixonante para mim. A Lisa, com suas inquietações acerca do mundo, sua paixão pelo jazz e suas crises existenciais ao saber que é a única coerente numa família desajustada. Eu, Charlie Brown, encontrei minha Lisa. Esta Lisa não tem família desajustada e os pais do Charlie aparecem nesta trama. A Lisa e o Charlie se encontraram. E, juntinhos, seguem vivendo um amor que sempre existiu... e que jamais irá terminar.

3 comentários:

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  2. Beijo da sua Lisa que nao quer que esse amor termine, que apesar de nao ser ruiva, adora o Charlie Brown (o do desenho e o real), mas que também gosta qdo a Lucy tira a bola na hora q ele vai chutar...rs..va entender, neh? rss

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  3. Risos... minha Lisa... Moreninha... Moreninhaaaaa! Este amor estará sempre forte... inteiro. Nós dois somos mais que tudo, mais que muitos. Além do que, a Lucy também ficará com o Schroeder. Como nós dois! Sempre!

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